O fato de eu fazer terapia já foi tema de outros textos, e sempre digo o quanto a terapia me rendeu mais perguntas do que respostas, e que o processo terapêutico não é fácil, mas é necessário e proveitoso. Fazer terapia é fácil: pagar as sessões, ter a rotina do dia em que ela acontece também; o difícil é assumir a nossa responsabilidade nas descobertas que fazemos, nos gatilhos que se tornam claros, no nosso sistema de crenças limitantes.
O que pega mesmo é, no dia a dia, colocar em prática e ter o compromisso de assumir o papel de protagonista da nossa própria história, sem colocar a responsabilidade no outro, na vida, no que nos aconteceu, mas entender que, apesar de todas essas coisas, somos adultos e precisamos tomar as rédeas da nossa vida e sermos responsáveis por nós mesmos.
E, francamente, colocar todas essas descobertas em prática não é fácil, além de não ser leve também — pelo menos não no início. Tem dias em que me dá preguiça, e dá muito mais trabalho ter consciência de tudo o que hoje percebo do mundo, de mim mesma e da minha história de vida.
Este mês, estar dentro do processo terapêutico se mostrou uma ajuda imensurável. Comecei a refletir sobre qual narrativa quero dar voz e direção na minha vida.
Quero me prender a quem me rejeitou?
Quero continuar carregando gatilhos de rejeição para todas as minhas relações, buscando respostas que talvez nunca venham? Ou quero seguir mesmo sem entender tudo?Também me questionei se quero sustentar uma narrativa de vítima, como alguém sem escolhas, ou se vou me comprometer comigo mesma e trilhar um caminho diferente a partir de agora — para colher resultados mais saudáveis e condizentes com a vida que desejo viver no futuro.
E mais: quero continuar carregando sentimentos de justiça própria, que pesam meu coração?
Ou quero liberar e perdoar até quem nunca me pediu (e talvez nunca peça) perdão?No fim, percebi que todo esse peso não aprisiona quem me feriu — aprisiona a mim.É aquela velha verdade: quando não perdoamos, é como tomar veneno esperando que o outro morra, quando, na verdade, quem morre somos nós.
Meu ponto aqui não é pesar o clima, mas falar sobre a responsabilidade na desordem da qual nós mesmos nos queixamos, como diz a frase do Freud. E entender que parte de ser adulto é reconhecer a nossa responsabilidade pessoal nas escolhas da nossa vida. E quando digo sobre protagonizar nossa própria vida, não é no sentido de sermos autocentrados, arrogantes, autossuficientes, mas sim o convite a entender que hoje quem deve ser responsável por nós somos nós. Diante da lei, cada um responde por si — então por que muitas vezes esperamos que essa aplicabilidade não se dê em outros aspectos da vida? Nos nossos relacionamentos? Sonhos para o futuro?
Essa questão da intencionalidade e da narrativa também me fez levar esses pontos mencionados anteriormente ao meu relacionamento pessoal com Deus, e ao sentimento que tenho carregado de saudade de quem eu já fui em Deus, comparando o meu presente com uma versão mais “crente” do passado. Até eu entender que é impossível ser quem eu já fui, porque ao longo da vida vamos mudando, passando por situações que nos fazem perceber tudo de uma forma diferente, e isso nos leva, por consequência, a nos tornarmos alguém diferente. Em Eclesiastes, o pregador nos aconselha a não olhar para os dias passados e compará-los com o presente, porque isso não é sábio (Eclesiastes 7:10).
Essa responsabilidade pessoal, junto com a intencionalidade, também me levou a reparar o quanto eu andava desleixada na minha vida espiritual, no meu momento devocional com o Senhor, em procurar conteúdos — sejam livros, pregações, louvores — que edifiquem a minha fé. Percebi que essa falta me torna alguém mais carnal, mais propensa a guardar mágoas e rancor, mais temperamental. E voltar às disciplinas espirituais pode trazer muitos benefícios para mim e para as pessoas que convivem comigo.
A lição que aprendi este mês foi: tomar a responsabilidade pela minha própria vida e ser mais intencional, seja dentro do processo terapêutico, colocando em prática tudo o que venho aprendendo ali, seja na minha vida espiritual, fazendo a parte que me cabe, lembrando que até para servir a Deus, eu dependo de Deus — que não é só na minha força que vou conseguir —, mas também não usar isso como escapismo para não fazer o que só eu posso fazer.
Espero que essas reflexões possam te encorajar e edificar sua vida também. Obrigada por ler meu texto e até a próxima!
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