Quando o muito obrigada não é suficiente
Minha vida aqui na Irlanda tem sido divertida, ás vezes solitária, desafiadora, mas sempre muito mais do que eu imaginei. Muito além do que um dia sonhei. Jamais poderia pensar em todas as pessoas que iria encontrar, nos lugares que iria visitar e tudo que iria aprender sobre mim, o mundo, a fé e a vida. E olha que só tem pouco menos de quatro meses que estou aqui.
Sempre penso em como poderia documentar todo esse tempo aqui, se gravando vídeos, relatando em textos... quero ser íntegra em tudo, e compartilhar as alegrias e também os desafios. A missão nunca é como a gente acha que vai ser, criamos tantas coisas em nossas cabeças, de como vai ser, como queremos que seja, como imaginamos que vai ser e como realmente é, o que ás vezes pode ser surpreendente melhor ou ainda mais complicado do que poderíamos compreender. Mas a verdade é que a realidade é melhor do que a imaginação, justamente por ser real.
O que mais gosto daqui são as pessoas, tenho sido tão acolhida, as pessoas são muito acolhedoras, amigáveis, sempre perguntando sobre como estou me adaptando, se o frio tem sido difícil de suportar, se já visitei muitos lugares legais. A comida foi um desafio no início, mas agora estou me adaptando. Aprendi que aqui a chuva e o frio não podem nos impedir de fazer nada porque se não teríamos que ficar em casa o dia inteiro sem fazer nada. Adoro poder falar inglês 24 horas e ainda me confundir com algumas palavras ou não saber pronunciar outras, mas levar tudo numa boa porque o Inglês não é a minha primeira língua. Fazer piadas e ver as pessoas daqui rindo e se dando bem com o meu humor brasileiro que faz piada com tudo, até de si mesmo.
Também adoro ter uma rotina e ser relembrada que apesar de todas as coisas mais legais daqui e de tudo que tenho experimentado por ser uma pessoa estrangeira, tenho um propósito. Uma missão. Propósito esse que vai além de tanta coisa, inclusive de mim, missão essa que não alcança só os outros, alcança a mim primeiro todos os dias, a cada pregação, a cada estudo bíblico, a cada pessoa que interage conosco. A cada amizade e conversa que se estende, e vamos dividindo a vida, o riso, o coração com pessoas que acabamos de conhecer, porque o Reino é assim. Porque o evangelho é sobre gente. Gente essa imperfeita, miserável, pobre, cega e nua assim como cada um de nós, e ver que essa mensagem alcança os devidos corações. E que a espada corta mesmo dos dois lados, meu amigo.
Adoro meus dias de folga em que vou quase sempre ao centro da cidade, num específico café que tem grãos brasileiros (uhu) com a mesma amiga, pra compartilhar dos choros, das crises e conversar sobre o futuro, a vida, os processos e todas as coisas que nos trouxeram até esse lugar, de forma física e meta física. (um alô aqui pro Café Nero e minha amiga Júlia) Ainda tenho dias difíceis, ainda tenho dias que engulo o choro e que levantar da cama é um esforço, físico e emocional, mas é também sobre continuar em frente. Porque esse é o caminho. É falar do Caminho estando no Caminho.
Dentro desses quase quatro meses eu fico pensando em quantas vezes já vivi situações em que só dizer obrigada não é suficiente, mas é só o que tenho pra oferecer, e sendo sincero e vindo de coração, já é suficiente, né? E aí fico aqui orando ao Senhor pra saber compartilhar da mesma generosidade que tenho recebido com os outros, aquela coisa da palavra sobre termos recebido de graça e que devemos dar de graça. Sobre estender essa generosidade.
Sei que os momentos complicados ainda virão, que viverei momentos ruins e que vai ser difícil, mas nada disso me impede de levantar um altar ao Senhor de gratidão mesmo. De olhar pra todos os motivos que tenho pra agradecer e adorar, ao invés de olhar pro que ainda falta (falo isso pra mim mesma). E ser grata e feliz, porque a vida é breve mas não é rápida, como ouvi uma vez. E talvez esse texto se torne pra mim um lembrete, um memorial. Vamos juntos. Obrigada por acompanhar minha jornada!
Texto pra sua meditação: Lucas 10:36-37
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