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Crise de fé um relato- parte 2

 Mais de um ano depois de ler esse texto (último post) que escrevi relatando meu processo de crise de fé, me veio um sentimento de que viver é estar em crise. Estar em movimento é estar em crise como diz minha psicóloga, e não ousaria dizer que superei tudo isso 100%, já que estar vivo é estar pensando e repensando todas as coisas, revisitar nossas certezas quando os dias são maus, quando meus sentimentos não são condizentes com o que eu digo crer, e com o entendimento que a fé vem pelo ouvir (não sentir) e ouvir a palavra de Deus. 

Nesse processo todo tive muita ajuda,  ter conversas honestas me salvou muitas vezes, procurar ajuda pastoral, psicológica, o conforto dos amigos, foram medicina para minha alma. Ver meus irmãos em Cristo me suportarem no sentindo literal da palavra, foi uma graça tremenda. Viver dias comuns e leves e ir voltando a me sentir eu mesma ao longo de tudo isso foi um processo, e nem diria que foi linear, na verdade foi/é bem turbulento. E olhando pra esse tempo em minha vida não consigo pensar que foi em vão, na verdade foi bem proveitoso, esse terremoto que derrubou os fundamentos que estavam construídos na areia, me permitiu perceber o quanto minha fé e espiritualidade eram rasas, o quanto eu enxergava a vida, as pessoas e a mim mesma em uma ótica cruel e tão inflexiva, e o quanto foi libertador me deparar com minhas mazelas e me ver dependente de um Salvador. A cruz de Cristo não teria tanto sentido na minha vida se eu não tivesse questionado a minha fé, e percebido que na verdade é justamente por eu ser fraca, pequena, não ter todas as respostas, encontrar em mim a fome por algo que nada nesse mundo pôde/pode preencher, que compreendi que crer em Jesus é ter salvação porque Ele fez por mim o que eu nunca poderia fazer por mim mesma. Até a fé para crer é um dom, e o amor de Deus e seu comportamento para comigo nada tem a ver com a minha performance, o quanto da Bíblia eu leio, o quão boa e obediente sou, porque tudo isso não passa de palha seca que o fogo extingue. Por que na verdade é tudo sobre Jesus e o que Ele fez. É descansar no trabalho completo da cruz do calvário. É declarar como Pedro uma vez disse: pra onde iremos nós se só Tu tem as palavras de vida eterna? Ainda que tudo pareça loucura, que eu não sinta, veja ou entenda, para onde poderia ir? 

É viver essa fé que é de momento a momento como Schaeffer bem disse, é vir até o Senhor com as mãos vazias e receber tudo, é como viver essa noite longa e de luta que Abraão viveu ao lutar com Deus, e perceber como uma vez li, que a nossa maior luta não será contra o diabo e sim contra o próprio Deus. Entender que não consigo compreendê-lo olhando pra mim (homem) porque Ele não é como eu. É fazer as pazes com o não saber ou ter todas as respostas, mas continuar porque confio, cri por isso falei (2 Co 4:13-15) é lutar contra a minha ideia de Deus com a verdade sobre quem Ele de fato é. E isso, não é uma coisa que se vive de um ano pro outro ou de um dia pro seguinte, talvez seja a vida toda. E para mim, está tudo bem. Com crise ou sem crise pra onde mais poderia ir? 

Quero dedicar esse parágrafo a todos que seguraram em minha mão quando eu estava esmorecida, que choraram meu choro e oraram por mim, que me fizeram companhia quando me senti sozinha, que foram abrigo e graça de Deus, você sabe que faz parte disso ao ler esses textos, então do fundo do meu coração: muito obrigada, mil vezes obrigada, por não ter desistido de mim e por sempre afirmar que eu não era essa crise que estava passando, e que meu valor como ser humano vem antes das funções que exerço e se estou ou não em crise. Que Deus os retribua imensamente. 

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