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Maio: Terminar bem e fim de ciclos

Este ano, tomei a decisão de não continuar na Irlanda do Norte após o vencimento do meu visto. Eu nem estava noiva ainda, e foram muitos os fatores que me levaram a essa decisão — que não vêm ao caso agora. A questão é que decidi encerrar meu tempo aqui (vou escrever mais sobre isso depois, foi e tem sido um tempo muito importante na minha vida). 

Já mencionei em outros textos que o fim das coisas sempre é difícil para mim. Tenho um verdadeiro apego àquele versículo de Eclesiastes que diz que “melhor é o fim das coisas do que o início delas”. Tenho refletido sobre isso mais uma vez. Já foi dito que a única constante na vida é a mudança — e eu não poderia concordar mais, especialmente agora. Minha vida está prestes a mudar mais uma vez.

Lidar com mudanças e com o fim de ciclos sempre envolve muitas coisas, e uma delas é a nossa saúde emocional. Para me ajudar com isso, o processo terapêutico tem sido indispensável. Desde que cheguei aqui, comecei a fazer acompanhamento psicológico por questões de saúde mental e afins. Uma das coisas que a terapia nos ensina é a prestar atenção aos nossos pensamentos, que logo se transformam em sentimentos e, por fim, em ações. Fica cada vez mais fácil reconhecer nossos sentimentos e entender por que estamos respondendo a determinadas situações da maneira como temos respondido.

Ao sondar e sentar com esses sentimentos conflitantes, percebi que, desta vez, minha reflexão sobre o fim deste ciclo foi diferente.

Não quero, de forma nenhuma, negar a beleza do versículo bíblico, mas comecei a me questionar se não tenho interpretado esse “fim” como sendo melhor de uma maneira equivocada. Talvez, ao colocar muita pressão sobre mim mesma para terminar tudo com excelência, querendo concluir com esmero tudo o que comecei — e não que isso, em si, seja ruim — eu tenha, por vezes, tornado o processo mais difícil.

Talvez o que o versículo queira dizer não seja necessariamente concluir com garra e perfeição, e só então esse fim será melhor do que o começo. Talvez o autor esteja apenas destacando o fim como um lembrete sobre a vida e tudo o que acontece debaixo do sol — que nada é totalmente novo — e ele repete essa narrativa ao longo do capítulo e do livro.

O fim é melhor porque revela o esquema geral da vida: que ela é breve, passageira. O fim é melhor porque já não somos os mesmos, porque amadurecemos, evoluímos. E está tudo bem se esse fim, do qual Salomão escreveu que é melhor, não for necessariamente agradável ou fácil de viver. Está tudo bem querer que o fim de um ciclo chegue — seja por estarmos cansados, prontos para o que vem, ou ambos. Ainda assim, continua sendo verdade: o fim é melhor do que o início.


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