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Abril: Ficar noiva, ir para Paris e o contentamento

Nada acontece do nada na vida de ninguém — algo que, no fundo, todos sabemos, mas que de vez em quando precisamos nos lembrar. Pensei em escrever tantas coisas, mas me pareceu uma justificativa, ou uma explicação, compartilhar como e por que tive a oportunidade de viajar e conhecer mais um país incrível. É estranho sentir quase uma culpa, como se eu precisasse pedir permissão, dado o meu contexto de vida aqui em Belfast e o que vim fazer (alô, terapia!).

Assim como nada acontece do nada na vida de ninguém, a vida também não é feita só de luta atrás de batalha (graças a Deus!). Podemos, sim, aproveitar as coisas muito boas que nos acontecem às vezes — na verdade, todos os dias —, embora nem sempre consigamos enxergar.

Abril foi um mês que não prometeu nada e entregou tudo: fui pedida em casamento com uma surpresa linda e tão a nossa cara (meu fofinho é demais!) e tive a oportunidade de conhecer Paris com a minha amiga Maressa. Para quem olha de fora, pode parecer que a minha vida é muito boa, que sou muito sortuda (o que não deixa de ser verdade), e que, quando coisas assim acontecem, seja na nossa vida ou na de alguém, é fácil concluir e dizer que “Deus é bom” — e Ele é mesmo. Mas Sua bondade é um dos Seus atributos; Ele é bom o tempo todo, até quando a vida não é.

Porque, se condicionarmos Sua bondade somente às coisas boas que nos acontecem, aos fatores externos, vamos acabar comparando realidades, ficaremos frustrados e até invejaremos a vida do outro, quando, na nossa percepção, Deus parece ser tão bom com todos — menos comigo. Quando, na verdade, Ele é bom. Ele não é mais ou menos bom dependendo do dia ou da situação.

Outro risco que corremos — ou melhor, que eu corro — é o da pressa. Pressa de viver a vida, as horas, os dias; de estar no presente já pensando no futuro, sem aproveitar cada fase como se fosse única. E, embora intelectualmente eu saiba disso, continuo a ter pressa, a querer viver tudo rápido demais, sem saber esperar e saborear cada momento como um chocolate delicioso que queremos degustar devagar, sentindo cada nuance do sabor.

Desde que fiquei noiva, e sempre que ouço as pessoas me dizerem para aproveitar essa fase, tenho pensado muito nisso: a pressa não é só inimiga da perfeição, mas também do contentamento. Então, quero aprender a ter mais contentamento, ao me lembrar que a fase, as alegrias e até as preocupações de hoje um dia serão só lembranças. Quero aproveitar bem cada etapa — como aquele chocolate saboroso que queremos fazer durar, por ser tão bom. Quero saborear a vida assim também.

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