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Me casei, e agora?

Até os meus 19 anos, casar era um sonho muito grande no meu coração. Não diria que era o maior sonho da minha vida, já que morar fora ocupava o primeiro lugar dessa lista. Assim como muitas meninas jovens, sempre gostei de livros e filmes românticos — li e assisti a muitos — e fui bastante influenciada por essa ideia hollywoodiana sobre o amor.

Após os meus 19 anos e minha primeira desilusão amorosa (gostar de alguém que não correspondeu aos meus sentimentos), passei a dizer que me casaria com um gringo de olhos azuis. Não sei bem de onde tirei essa ideia ou essa possibilidade, já que morava no Brasil e não tinha nenhuma condição financeira de fazer intercâmbio nem nada parecido. Hoje, olhando para trás, penso que foi uma forma do meu coração se proteger de outra rejeição — desejando algo tão distante e improvável, as chances de me ferir eram mínimas. Então, passei a nutrir esse sonho, ou melhor, essa ideia, no coração.

Ao longo dos anos, fui bastante confrontada por pessoas próximas a mim (o pessoal da Jocum e minha amiga Iara), que me faziam questionar se eu estava obcecada com essa ideia do “gringo imaginário” a ponto de rejeitar possíveis pretendentes. Foi difícil para o meu coração distinguir isso. Mas a verdade é que não havia pretendente algum — nem gringo, nem brasileiro, nem japonês... não havia ninguém. E isso não foi um problema. Eu estava realmente ocupada vivendo a minha vida: servindo na igreja, me envolvendo com a Jocum, fazendo faculdade, começando meus primeiros estágios e, ainda, aprendendo inglês. Minha vida era muito corrida nessa época, e eu realmente estava vivendo bons anos.

E por que estou contando tudo isso?
Porque pessoas que me conheceram naquela época me lembraram disso ao me parabenizarem pelo casamento. Primeiro, com frases do tipo: “Mari, que maravilhoso! Deus é mesmo muito fiel. Lembro de você dizer que ia casar com um gringo e olha só, Deus fez!”
Outros ainda diziam o quanto eu merecia isso — e confesso que tenho certa ressalva em aceitar esse tipo de elogio, porque parece que fiz algo para merecer, ou que fazemos por merecer as coisas boas que Deus nos dá. Eu entendo a intenção, mas não concordo muito com essa ideia de merecimento. Para mim, é uma bênção de Deus — realmente um presente. E nem sempre ganhamos um presente porque é um dia especial ou nosso aniversário, mas simplesmente porque somos amados, e aprouve a quem nos ama nos presentear.
Com Deus, penso que é assim também. Então, não entendo como se eu “merecesse”. Acredito que todo mundo deveria viver um sonho se tornando realidade, porque é uma sensação muito boa.

Com tudo isso, fiquei pensando nos dois lados dessa coisa toda do casamento. Primeiro, a idolatria ao casamento, na qual podemos facilmente cair, fazendo toda a nossa existência girar em torno de alcançar o “grande amor”, “conhecer a tampa da panela”. Por outro lado, há a indiferença, reforçada por essa mensagem moderna de que o casamento é uma instituição falida, agravada pelas altas taxas de divórcio.
Em todo esse meu curto tempo de noiva, percebi como é difícil encontrar um equilíbrio entre essas duas visões. Parece sempre haver uma polarização: ou você ama o casamento e faz disso a razão da sua vida, ou é indiferente e não acredita mais nisso.

Refletindo sobre isso, percebi que o equilíbrio está no meio — em viver cada fase da vida de forma intensa e intencional.
Se o seu sonho é se casar e formar uma família, que maravilha! Faça isso com temor e sabedoria.
Não se deixe engolir por discursos que maldizem o casamento, ou o tratam como algo impossível e sofrido. A vida acontece para todos nós, e já estamos cansados de ouvir que “para viver é preciso ter coragem” — e isso vale para tudo na vida.

Também preciso mencionar que, dentro de ambientes eclesiásticos, o casamento ainda ocupa um lugar quase idolátrico, uma figura central em nosso meio. É fácil perceber o quanto as igrejas têm programação para todos — pais, mães, crianças, adolescentes e jovens — mas a pessoa solteira quase passa despercebida. Ser solteiro, às vezes, é tratado como um defeito, quando na verdade há pessoas que simplesmente não vão se casar, seja por escolha, seja porque nem sempre acontece para todos. E isso não deveria ser um problema — é apenas a vida, algo normal.

Acho que por isso um dos meus medos, tanto quando era solteira quanto noiva, era pensar que, muitas vezes, a mensagem que recebíamos — das pessoas casadas, dos livros e dos filmes — era de que depois do casamento o encanto se perde. Quase como se o casamento fosse o clímax da vida, e depois dela tudo acabasse. Os livros terminam no ilusório “felizes para sempre” e os filmes encerram quando o casal protagonista finalmente fica junto depois de tantos percalços. Eu me perguntava: “Ok, mas o que acontece depois?”

E sabe o que entendi que acontece? A vida.
A vida acontece — a rotina, o trabalho, o estudo, o mercado, o jantar, as roupas no varal. A repetição dos dias comuns, às vezes até ordinários. Mas a vida só é vida porque é feita dessas coisas miúdas, de rotina, de manutenção.

Depois do casamento, vem a vida — a continuação da sua história, que antes era individual, mas agora é em par. É sonhar junto, mas também dividir as tarefas, cuidar da casa, das compras, da limpeza.
Isso pode não render rios de livros ou filmes, mas também é belo. Também é digno de ser vivido. E é um prato cheio de aprendizados.

Falo isso com honestidade: ainda estou descobrindo muitas coisas. Não tem nem um mês que me casei. Este texto não tem o objetivo de palestrar sobre casamento, como se eu soubesse tudo — é mais um desabafo e uma reflexão, como todos os outros que escrevo.

Vamos juntos.

Ps: E ainda devo mencionar que, sim, eu me casei com um gringo de olhos azuis — mas ele não é só isso. Tanto é que disse um dos “sins” mais importantes da minha vida. Às vezes, quando paro para refletir sobre o rumo que a minha vida tomou (ou tem tomado), percebo que, nem nos meus maiores sonhos, eu poderia imaginar as coisas que aconteceriam. Sou muito grata ao Senhor por permitir tantas bênçãos, apesar de mim. É uma vida normal, muitas vezes comum como tantas outras, mas é uma vida cheia de bênçãos e milagres.

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