Se formos parar para refletir bem sobre a vida, perceberemos que muito dela é vivido na rotina — as mesmas coisas de sempre, feitas quase todos os dias. E assim, cada segundo, cada minuto que passa parece ser irrelevante no esquema geral das coisas, até percebermos que eles são toda a nossa existência — breve, mas não tão rápida.
O mês de outubro tem sido um mês de manutenção por aqui. Acabei de me mudar para um novo apartamento e, entre comprar novos móveis, esperar chegar e lidar com muita bagunça, percebi o quanto a vida é sobre manutenção.
Hoje limpamos a casa, para logo fazermos de novo. Estendemos as roupas no varal, para logo recolhê-las. E assim vai acontecendo todos os dias — ou, pelo menos, quase todos.
E não falo isso como algo ruim ou negativo; pelo contrário, me considero uma pessoa fã de rotina. Ou melhor dizendo: não a amo de paixão, mas temos um relacionamento amigável.
É aquela coisa de que pensamos odiá-la até começarmos a fazer algo diferente todos os dias ou todas as semanas — e aí percebemos o quanto sentimos falta de ter uma estrutura para os nossos dias.
A manutenção não acontece só na rotina de cuidados da casa; podemos percebê-la também nos nossos relacionamentos — seja o relacionamento consigo mesmo ou com os outros.
Ela acontece no cuidado com a pele, com a alimentação e até mesmo nos estudos. Todos os dias vou mantendo passos muito parecidos, ou até iguais, para chegar à fluência do alemão (no meu caso).
A cada café e saída com os amigos, vamos nos mantendo e estreitando os nossos laços.
Cada vez que aprendemos a dizer “não” e a estabelecer limites para algumas coisas e pessoas, estamos mantendo o nosso amor-próprio em dia.
Até mesmo no devocional — ler a Bíblia e orar todos os dias — estamos mantendo nossa comunhão com o Senhor.
E é engraçado que tudo isso nem é uma revelação nova para nenhum de nós, mas quando paramos para perceber, faz todo o sentido.
Isso também nos ajuda a ter um olhar mais calmo sobre a vida.
Talvez romantizar um pouco a nossa rotina, as nossas manutenções, faça com que encontremos a beleza no ordinário.
Hoje, com as redes sociais, a internet e toda essa coisa de inteligência artificial, podemos facilmente nos anestesiar com a novidade — sendo que a vida, fora disso tudo, embora breve, não é tão rápida.
Tudo na vida é uma questão de tempo: de esperar e de manter.
Como uma dança constante — um passo de rotina, outro de manutenção, uma rodada de tempo e uma balançadinha de paciência. Esse é o ritmo da vida.
O convite que me tem sido proposto para este mês é enxergar a minha vida, nessa fase tão diferente e cheia de desafios, de aprender quase tudo de novo, é ver a manutenção da vida como uma bênção — encontrar leveza e beleza nas coisas mais banais.
Mesmo que eu as faça todos os dias, não é só a novidade que encanta ou preenche: também é o silêncio, a calmaria, o conforto de fazer coisas conhecidas, de viver dias muito parecidos.
Porque essa é a realidade — mas também porque isso nos ajuda a enxergar aquela viagem especial, aquele dia atípico, como ainda mais especial e diferente.
E sim, está tudo bem se você está cansado da sua rotina ou de manter algumas coisas.
Isso também nos ajuda a questionar o que ainda faz sentido para a vida que queremos cultivar.
E isso vale desde um passo do skincare até os relacionamentos que insistimos em manter e segurar forte, quando já não fazem mais sentido.
Não deixemos que as redes sociais nos enganem — a vida não acontece no passar de um vídeo numa timeline. Ela é muito mais do que isso.
Seguimos juntos e vamos em frente, abraçando o ordinário e mantendo o que nos ajuda a construir a vida que queremos viver.
Com leveza, paciência, muita calma e com a presença de Deus — que muitas vezes se manifesta de forma inesperada, como o profeta Elias experimentou: numa brisa suave.
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