Sobre ser mediano, ócio e a espera no escuro

Estive pensando recentemente o quanto não somos preparados para sermos medianos, normais, diria até que ordinários, no sentido de ser comum. Hoje em dia queremos ser vistos, ouvidos, ter uma rede social que bombe de engajamento, ou simplesmente nos disseram que a gente tinha que ser o melhor, ir além da medida, trabalhar tanto, e não é a toa que estamos lutando com tantas doenças no âmbito psicológico/ emocional hoje em dia. E me vi pensando isso sobre mim. Porque preciso sempre pensar que algo muito grande vai acontecer na minha vida? Que Deus tem uma GRANDE OBRA (coloquei em caixa alta para dar enfâse) para realizar? E essa obra está sempre pra se realizar, quando na verdade toda essa coisa grande é feita de tantas outras tão pequenas, como li uma vez no livro da Anne de Green Gables. Na verdade essa grande obra está acontecendo todo dia, no percurso, na vida que é vivida e feita de instantes. 

E não me entenda mal, não estou querendo dizer que não devemos fazer ou querer o melhor, se esforçar nas coisas que são importantes para nós. É só que esse estilo de vida é insustentável, se a gente viver o tempo todo assim. Pois a vida é bem entediante às vezes e não importa o quanto somos bons, sempre vai existir alguém melhor em alguma coisa, e devia estar tudo bem  para nós, mas infelizmente não está. É por isso que não somos muito bons em descansar, em curtir o ócio, porque fomos tão ensinados que somos o que fazemos, o que produzimos que quando todas essas coisas estão em pausa, a gente fica meio perdido sem saber o que fazer ou como ser quem se é. E tá, eu sei que tudo o que fazemos é também parte de nós mas não é o âmago, é uma faceta.

Não sei, talvez escrever esse texto no plural faça-me sentir menos vulnerável, porque na verdade eu é que me percebi sendo assim. Depois de obter o resultado que precisava na minha nota do IELTS pro meu processo de visto, me vi um pouco triste e diria que até decepcionada, e não, não foi porquê não obtive a nota que precisava, mas porque pensei que fosse melhor, que estivesse em outro nível após tantos anos lutando por esse Inglês. E foi assim que pensei nisso tudo: porque não posso simplesmente aceitar ser mediana? Comum? Porque tudo tem que ser grande e mágico e purpurinoso para ter significado? Será que eu fiquei viciada em novidade e o tédio me enlouqueceu? como cantou Tim Bernardes naquela música (tudo está melhor do que parece).

E olha, sendo bem franca eu nem sei como responder à tudo isso agora e talvez nem precise. Então vou é seguir o conselho da minha psicóloga: viver esse período de espera no escuro (acerca do meu processo de visto pra voltar pra Belfast) tentando responder essas questões, gastando tempo comigo mesma na forma mais pura, onde minhas obrigações e responsabilidades encontram-se um pouco em pausa. Gastando tempo em silêncio pra ver se eu escuto o que Deus tem falado e todo barulho da vida não está me permitindo ouvir,  e fazer o máximo dessa espera, ainda que no momento não tenha ideia do quê ou como. E vou seguir. 

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