Atenção: Antes de ler o texto, certifique-se de que você está ok em ler possíveis spoilers do novo filme da DC sobre o Superman.
Uma das coisas que mais gosto de fazer comigo mesma é me levar para sair, seja tomar um café, ir a uma livraria ou ao cinema. Esta semana fiz dois programas em um só: fui à minha cafeteria preferida e depois ao cinema (foi meu aniversário, então me mimei!). Dos filmes que estavam em cartaz, o que me atraiu foi o novo do Superman — e olha que eu nem sou muito fã de filme de herói, porque acho tudo muito previsível: o mocinho apanha até quase morrer e destruir tudo, até que o bem vence o mal e fim. Mas, de qualquer forma, fui… e me surpreendi bastante! Achei o filme particularmente muito bem feito, com uma boa trilha sonora e visualmente muito bonito.
Outro fator que me chamou a atenção foram as temáticas que o filme levantou e que conversam muito com o que temos vivido hoje em dia, principalmente no contexto de fake news e tecnologia, além do dilema moral sobre a nossa preocupação em ser bom, sobre o que os outros vão pensar de nós, crises de identidade, as armas que o mal utiliza para tentar triunfar sobre o bem, e até a cultura do cancelamento. Fiquei bastante surpresa que um “filminho de herói” (pelo menos na minha cabeça é assim) poderia render tantas reflexões.
A primeira reflexão que quero levantar — e que me chamou muito a atenção — foi o quanto a nossa sociedade, com essa moda da cultura do cancelamento, não perdoa ninguém e facilmente se esquece de todo o bem que já foi feito. Assim como é retratado no filme, o Superman já havia salvado a cidade e a vida de inúmeras pessoas contra meta-humanos malignos, provando várias vezes suas verdadeiras intenções e caráter. Até que uma notícia falsa, trazida pelo vilão do filme, Luthor, consegue difamá-lo e convencer os moradores de Metrópolis, que antes o amavam, a duvidarem de sua integridade — inclusive fazendo com que o próprio Superman passe a duvidar de si mesmo. Ele entra então numa crise de identidade que afeta até sua missão de vida, porque, no fim das contas, essas duas coisas estão entrelaçadas. Isso resulta em um profundo desencorajamento e em um sentimento de não saber mais qual é o seu lugar no mundo, fazendo-o repensar a própria história.
É incrível perceber também no filme o quanto as armas que o mal utiliza são sempre negativas: mentiras, enganos, difamação e violência. São essas mesmas armas que Luthor usa para tentar desmoralizar o Superman. O mais triste é ver pessoas na vida real também utilizarem essas mesmas armas e prosperarem. Quando vemos toda mentira, engano e difamação cumprirem seu papel e, ainda que por um tempo, o mal vencer — vemos pessoas que fazem o mal se dando bem, alcançando prestígio, dinheiro, fama e credibilidade. Quantos de nós já não nos questionamos se fazer o bem realmente compensa? Em um mundo onde o mal triunfa, a falta de caráter, corrupção e desonestidade parecem passar despercebidas — e o pior: sem consequências, quando deveriam haver.
O grande dilema do filme, além da luta do bem contra o mal, é a própria batalha interna que o Superman enfrenta: “Quem sou? Por que estou aqui? Será que entendi meu propósito errado?” Já não saber quem se é, ou se perceber sendo alguém diferente de quem você achava que era, deve ser no mínimo angustiante. E quantos de nós — senão todos — já não passamos por esse vale existencial de nos questionarmos quem somos e o que estamos fazendo aqui, por que estamos aqui?
Alguns poucos de nós conseguem uma resposta clara — diria até óbvia — como o herói, que com sua superforça, visão, rápida recuperação e capacidade de voar, tinha seu propósito quase explícito. Já outros vão sendo quem descobrem ser. E ao longo do caminho esse propósito vai ficando mais claro. Tenho percebido, ao longo dos anos, que muitas vezes estamos tão focados em descobrir “o grande propósito” para o qual fomos criados, que acabamos nos equivocando. Hoje penso que, na verdade, vivemos propósitos — planos, no plural — e que há um plano maior, com um propósito bem estabelecido, que vai se cumprindo ao longo da vida por meio de uma sucessão de pequenos propósitos. E, no fim do dia, esses pequenos propósitos nos levam cada vez mais perto de cumprir o maior.
No caso do Superman, o propósito "pequeno", eu diria, é ter amigos — ter quem acredite em você quando nem você mais acredita. Sejam nossas famílias, amigos, nossos pais. E é no seio familiar, numa conversa com o pai adotivo de Clark, que ele recebe uma resposta preciosa para sua crise existencial: acolhimento e afirmação — o que o leva a caminhar mais uma milha, vivendo um pequeno propósito com o fim de cumprir o maior.
Sabemos que o mal pode até parecer triunfar sobre o bem, mas, no fundo, esperamos com expectativa ver o bem supremo vencer o mal de uma vez por todas. As armas da verdade são puras, generosas, têm boas intenções. E, mais uma vez, vemos o mal ser derrotado por si mesmo — colhendo o fruto que ele mesmo plantou. Toda mentira tem perna curta e, mesmo que demore, o bem sempre vence. As fake news que Luthor inventou (ou melhor, distorceu) até prevaleceram por um tempo, mas a verdade veio à tona, fazendo com que o Superman — agora reafirmado, com seu propósito esclarecido e sua crise resolvida — tivesse uma chance real de lutar contra toda artimanha de… Satanás (opa, Luthor!). E foi aí que o filme entregou tudo: ao revelar que o grande inimigo do Superman, na verdade, era ele mesmo. Reiterando a ideia de que somos o nosso maior inimigo, que o vilão que precisa ser vencido todos os dias somos nós mesmos.
Achei particularmente linda a cena em que Clark, em sua casa, na fazenda, tem uma conversa com o pai adotivo que abastece seu tanque afetivo. Ali ele é afirmado, amado e recupera forças para continuar lutando. E… não é justamente assim que o Senhor faz conosco? Antes de nos dizer para que fomos feitos, Ele nos faz entender que fomos feitos para Ele. Com amor eterno, Ele nos amou e nos predestinou para boas obras. E é a partir desse lugar — desse amor, dessa criação — que temos força e combustível para viver nosso propósito e nossa identidade.
É um filme belo. Recomendo que você se leve para assistir também — ou vá com alguém. Tenho certeza de que você vai gostar.
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