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Sobre nossas inconsistências

Inconsistência
substantivo feminino
Qualidade, caráter ou estado do que ou de quem é inconsistente.
Falta de consistência, de estabilidade ou de firmeza.
"A i. de um material"
Falta de lógica, de nexo; incoerência.
Dicionário Oxford.

Se tem uma coisa que todos nós temos tendência a ser, é inconsistentes — seja em nossas falas que não são seguidas por ações, seja em nos tornarmos exatamente quem tanto criticamos.
Sim, é pesado, eu sei. Andei refletindo sobre isso nessas últimas semanas, e, confessando meu pecado aqui de peito aberto, percebi o quanto da minha justiça própria ficou ainda mais evidente quando me vi pensando coisas do tipo:
"Nossa, mas fulano se diz tão certinho, tão honesto, tão espiritual... e está se comportando dessa maneira?"
E, nos dias em que me batia uma consciência mais humilde, lembrava do que Jesus disse no Evangelho de Mateus, sobre olharmos para a trave em nosso próprio olho antes de apontarmos o cisco no olho do nosso irmão. Isso me envergonhou. Porque eu não quero ser esse tipo de pessoa, não quero ser como os fariseus.

Frequentemente tenho que lembrar à minha própria consciência que eu também não sou flor que se cheire, que muitos dos meus posicionamentos — e até a falta deles — são inconsistentes. Que, muitas vezes, no esforço de não ser certo tipo de pessoa, acabo fazendo exatamente aquilo que critico. Que quanto mais observo a vida dos outros, tentando "pegá-los no pulo do gato", mais isso reflete o quanto ainda há de mim mesma em mim — e o quanto ainda preciso ter mais de Deus em mim. Que preciso me livrar e me arrepender das minhas inconsistências, incongruências. Que preciso estar mais aos pés do Senhor, contemplando Sua beleza e caráter, e tentando, com a ajuda do Espírito Santo, ser mais como Ele.

Quero deixar claro também que o ponto deste texto não é trazer culpa, nem dar ênfase àquele trabalho ao qual todos estamos tão comprometidos — ser uma pessoa melhor —, porque o meu melhor ainda é ruim. É cheio de pecado, de justiça própria, de julgamentos infundados, e cheio também de inflexibilidade e dureza.
E essa, definitivamente, não é a pessoa que quero me tornar.
O objetivo do Evangelho, da santificação, não é nos fazer pessoas melhores, mas sim nos fazer parecidos com Jesus. E, ao nos parecermos com Ele, seremos sim, melhores.
Ele, que é manso e humilde de coração. Que não é inflexível e duro, mas justo, santo, bondoso.
Porque, se o nosso foco estiver em nos tornarmos pessoas melhores sem a ajuda do Senhor, só nos frustraremos. Ainda que façamos o maior esforço, que sejamos disciplinados, não chegaremos a lugar algum, porque não é assim que as coisas funcionam na ótica do Evangelho.

Mas também quero levantar a questão de que devemos exortar uns aos outros e nos manter em prestação de contas com as pessoas certas — nossa comunidade de fé, pessoas próximas, que de alguma maneira caminham conosco na jornada cristã.
E que, nesse ambiente, nossas inconsistências podem (e devem) ser questionadas e exortadas com o objetivo de transformação — para um caráter aprovado como bons servos de Cristo.

Que Deus nos livre de nossas inconsistências e nos faça mais parecidos com o Filho.

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