Eremita na era digital
Tenho lidos mais livros nesse tempo de reclusão. Tem sido
maravilhoso. Divertido e enriquecedor. E para mim que sempre ouviu e repetiu
que quem lê muito escreve bem, já não estava escrevendo mais nada. Em parte por
questionar-me qual sentido escrever se o público leitor já não se mostra tão
interessado? Para quê continuar escrevendo se a voz que achava ter já tem
perdido seu eco? E ainda é difícil sair de tudo isso. Mas escrevo em primeiro
lugar porque é isso que consigo fazer com as palavras não ditas, os pensamentos
vagos e profundos ao mesmo tempo e em segundo lugar porque entendo que mesmo se
uma pessoa lê já valeu. O alcance não precisa ser numérico se for de impacto,
já valeu. E mesmo que ninguém leia, essas palavras encontrarão seu lugar
debaixo do sol.
Enfim...
Não quero que tenha pena de mim. Não é esse o tom. É só um desabafo e de certa
forma uma introdução ao que quero dizer na intenção desse texto. Que não é
muito difícil de compreender. E está ligada a uma intrusa que pouco mais ou
menos de vinte anos, vem fazendo parte das nossas vidas de forma crescente e
abrupta, ela intermeia nossas relações com os outros, com nós mesmos, com o
mundo. Ela tomou lugar nos nosso trabalhos, nas salas de aula, ela substituiu
outros mecanismos. Ela cientificamente pode ser um gatilho para aumento de
sensação de ansiedade e depressão. Ela parece ser tudo de bom e todos parecem
saber seu lado negativo e estar bem preparados para lidar com isso. O que
sinceramente, não é o caso.
Conseguiu
entender de quem falo? Um mundo em quarentena parece estar distraído por ela e
indo muito bem no quesito entretenimento, obrigado. Falo da internet. Do mundo
de possibilidades e facilidades que ela nos abriu, confesso. Também a utilizo e
ela me ajuda em muitas coisas. Tem sido meu meio de trabalho. A maneira que me
relaciono com quem está em outro estado, país e diante do nosso cenário atual,
a casa ao lado ou em outro bairro. Tudo bem. Ela gera profissões, renda, ajuda
no network da galera, ajuda a polícia, médicos, advogados e demais profissões.
Mas o lado ruim é assustador. O primeiro ponto é ter nos transformado em
ermitões urbanos.
Fiz uma
pesquisa rápida no termo e um dos primeiros links que me deparei foi o
relato de um blog da vida triste de um adolescente de 15 anos que se tranca no
quarto vivendo toda uma vida diante de uma tela, faz suas refeições no quarto,
suas conversas são todas intermediadas por um teclado. Até mesmo suas excreções
são feitas ali. Difícil. Triste. Horrível. Fiquei assustada ao ler. Um termo
que se originou no Japão e que ficou conhecido como coisa de japonês mas depois
de um tempo, já estava in all over the place (em todos os lugares). Sei que até
aqui tem estado pesado, mas espero que vocês entendam onde quero chegar. Une-se
a isso as # do instagram, o alcance dos memes e posts no Facebook, os igvt's, o
feed organizadinho, muita gente tendo o que falar sobre tudo, e é legal ver que
a internet nos deu esse alcance também. Deu voz a quem não tem. Mas quando os
outros pensam ter muito o que dizer, quem realmente tem conteúdo significativo
para isso, passa despercebido. E diante de tudo isso, sempre penso em seguir o
caminho contrário, me tornar um eremita no significado etimológico da palavra,
me isolar desse mundo todo, e viver na natureza. Opa, acho que fui longe
demais. Ok, no meu caso iria redefinir esse termo apenas me afastando de todas
as redes sociais, utilizar só realmente o que precisa e ter relações profundas
olhando nos olhos dos meus amigos, pais, irmãos. Ao invés de ficar presa em um
tela.
Mas
também estou presa. Nessa coisa maravilhosa e horrível ao mesmo tempo. E para
te falar bem uma verdade eu também não sei muito o que fazer para conter os
danos, para ter um relacionamento saudável com a internet e suas facilidades. É
difícil traçar um bom plano. Mas o que faço é me afastar quando vejo que não
tem me feito bem, é estabelecer metas no meu pensamento de passar menos tempo,
dormir mais, sentar com a minha família e almoçar com eles conversando sobre
tudo isso que tem nos acontecido. Compartilhar a vida. Das boas notícias da
vida que estão acontecendo aqui. Agora.
Não quero
soar muito negativa sobre tudo isso. Como já, disse reconheço o bom lado que
isso tudo nos permitiu, mas também quero te conscientizar desse outro lado, e
compartilhar com você meus sofrimentos em tudo isso porque sei que você se
identifica também. Estamos no mesmo barco. Na mesma era. Passando pelas mesmas
coisas, não na mesma intensidade, claro, mas de certa forma bem semelhantes. E
compartilhar é bem legal, nos faz ter mais o que pensar.
Em suma o
que quero deixar é isso: Vamos ser um pouquinho mais críticos, mais
conscientes, pôr de lado e na balança o que está dando certo, o que não. Ter um
equilíbrio saudável. E procurar sempre a saúde e o lado bom das coisas,
retendo o que é bom e nos isolando, do que nos faz mal, de alguma maneira. Seja
da internet. De relações tóxicas, ambientes que não nos cabem mais, coisas e
pessoas que não nos acrescentam.
Que Deus
nos ajude nessa era moderna e digital que traz tantos desafios e dificuldades.
Sigamos juntos!
Sigamos juntos, sendo críticos de nós mesmos e reconhecendo nossos limites.
ResponderExcluirSiim!
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