Março: Rotina, relacionamentos e outros pensamentos
Outro dia, estava lendo um texto que nem cheguei a publicar sobre rotina, algo bem poético, sobre um dia que andei num parque. O fato de o dia estar lindo me fez refletir sobre a rotina, as coisas comuns e tal. E o texto tinha um desfecho bem bonito. Foi escrito há quase um ano atrás e, no meu momento presente, achei meio piegas. Pois a rotina, nesses últimos dias, para mim, não tem sido nada bonita ou legal. Tá, eu até entendo meu ponto nesse outro texto sobre a vida ser ordinária e acontecer justamente em dias comuns, e o quanto a gente espera por coisas grandes para sermos felizes e considerarmos um bom dia, e por aí vai. Só que a questão também é que a vida pode ser bem chata e entediante às vezes. E o que a gente faz quando essa sensação perdura?
Ouvi uma vez em um podcast que falava justamente sobre o tédio. Ele não é de todo ruim; às vezes, precisamos parar e ouvir o que ele está tentando nos dizer. De repente, é o anúncio de que nossa vida precisa de uma mudança e que nosso cérebro precisa de novos estímulos e desafios para se desenvolver. E que talvez essa mudança que a gente precisa tanto, às vezes, pode estar numa quebra na rotina que já há tempos não fazemos, e que pode ajudar. Não sei. Segui esse conselho de quebrar a rotina e foi bom, mas o tédio não foi de todo embora. Acho que é uma daquelas coisas que a gente precisa aprender a lidar, que faz parte da vida. No fundo, a gente até precisa, de fato, do tédio.
E andei refletindo também sobre essa questão do tédio dentro dos nossos relacionamentos, e na dificuldade de fazer amigos quando se é adulto, ou entender que, às vezes, vamos passar pelo luto de perder uma amizade. Não necessariamente porque houve um conflito ou falta de perdão; às vezes, foi só a vida acontecendo, nos levando a viver estações diferentes. Frida Kahlo tem uma frase bem legal que diz algo mais ou menos assim: "Se você me quer na sua vida, me coloque nela, eu não deveria estar lutando por uma posição." E isso me acertou precisamente, porque às vezes me vejo lutando para caber na vida de pessoas que já não me querem na vida delas, ou simplesmente eu não caibo mais, e vice-versa. E a gente precisa também aprender a lidar com isso, a seguir em frente com o coração leve. Deixar partir.
Talvez essa coisa de perder amigos faça parte da rotina da vida, ou da rotina dos relacionamentos. Não que eu esteja querendo dizer que vamos viver perdendo pessoas, mas que, na realidade da vida e das amizades, isso vai acontecer. E precisamos estar ok com isso, ou vamos ficar presos nessas questões por mais tempo do que o necessário.
Acho que o que estou tentando dizer é que o tédio e a rotina fazem parte da vida de todos nós, até mesmo das pessoas mais ricas e influentes. E ele também ajuda nosso cérebro e nossas emoções com questões neurais muito além do que estamos conscientes. São nos dias comuns, quando o tédio bate à porta, que começamos a refletir sobre tudo e sobre nada. E, de repente, chegamos a conclusões, a sentimentos de luto, de perda, ou de finalmente receber o empurrão que precisávamos para começar um projeto, mudar de vida, de hábitos, de país ou de emprego. Acho que, se prestarmos bem atenção, o Senhor está sempre se comunicando conosco através da vida, na vida, e até na chatice da rotina. Quem diria que Deus, que é Deus, fez o mundo em vários dias e até descansou? Depois, vieram a contagem dos dias, que, em algum momento da história, viraram a semana. E hoje temos esse tempo cronológico dividido da forma como é, em que a vida vai passando, acontecendo, e percebemos que os dias são longos, mas os anos são curtos. E, sem perceber, já se passaram quase três meses nesse ano que começou ontem. A vida realmente é agora.
Ps: Esse texto foi escrito na segunda semana de Março.
Comentários
Postar um comentário