Outro dia, estava lendo um texto que nem cheguei a publicar sobre rotina. Era algo bem poético, sobre um dia em que andei num parque. O fato de o dia estar lindo me fez refletir sobre a rotina, sobre as coisas comuns e tal. O texto tinha até um desfecho bonito. Foi escrito há quase um ano e, no meu momento presente, achei meio piegas. Pois a rotina, nesses últimos dias, para mim, não tem sido nada bonita ou legal. Tá, eu até entendo meu ponto naquele outro texto — de que a vida é ordinária e acontece justamente em dias comuns, e que muitas vezes esperamos por coisas grandes para sermos felizes e considerarmos um dia bom, e por aí vai. Só que a questão é que a vida também pode ser bem chata e entediante às vezes. E o que a gente faz quando essa sensação perdura?
Ouvi uma vez, num podcast, uma reflexão justamente sobre o tédio. Ele não é de todo ruim; às vezes, precisamos parar e ouvir o que ele está tentando nos dizer. De repente, é um anúncio de que nossa vida precisa de uma mudança, de que nosso cérebro precisa de novos estímulos e desafios para se desenvolver. E talvez essa mudança que tanto precisamos esteja em uma simples quebra de rotina, algo que há tempos não fazemos, mas que pode ajudar. Não sei. Segui esse conselho de quebrar a rotina e foi bom, mas o tédio não foi embora de todo. Acho que é uma daquelas coisas com as quais precisamos aprender a lidar, porque também fazem parte da vida. No fundo, a gente até precisa, de fato, do tédio.
Andei refletindo também sobre o tédio dentro dos nossos relacionamentos e sobre a dificuldade de fazer amigos quando se é adulto. Ou ainda sobre a dor de perder uma amizade — não necessariamente porque houve conflito ou falta de perdão; às vezes, foi só a vida acontecendo, nos levando a viver estações diferentes. Frida Kahlo tem uma frase bem legal que diz algo mais ou menos assim: “Se você me quer na sua vida, me coloque nela; eu não deveria estar lutando por uma posição.” Isso me acertou em cheio, porque às vezes me vejo lutando para caber na vida de pessoas que já não me querem mais por perto — ou simplesmente nas quais eu não caibo mais. E vice-versa. A gente precisa aprender a lidar com isso, a seguir em frente com o coração leve. A deixar partir.
Talvez essa coisa de perder amigos faça parte da rotina da vida, ou da rotina dos relacionamentos. Não quero dizer que vamos viver sempre perdendo pessoas, mas que, na realidade da vida e das amizades, isso vai acontecer. E precisamos estar em paz com isso, ou ficaremos presos nessas questões por mais tempo do que o necessário.
Acho que o que estou tentando dizer é que o tédio e a rotina fazem parte da vida de todos nós — até mesmo das pessoas mais ricas e influentes. Ele também ajuda nosso cérebro e nossas emoções em processos muito além do que conseguimos perceber conscientemente. São nos dias comuns, quando o tédio bate à porta, que começamos a refletir sobre tudo e sobre nada. E, de repente, chegamos a conclusões: sentimentos de luto, de perda, ou de finalmente receber o empurrão que precisávamos para começar um projeto, mudar de vida, de hábitos, de país ou de emprego. Se prestarmos bem atenção, veremos que o Senhor está sempre se comunicando conosco através da vida — até mesmo na chatice da rotina. Quem diria que Deus, sendo Deus, fez o mundo em vários dias e até descansou? Depois, vieram a contagem dos dias que, em algum momento da história, se transformaram na semana. Hoje temos esse tempo cronológico dividido da forma como é. E a vida vai passando, acontecendo, e percebemos que os dias são longos, mas os anos são curtos. Sem perceber, já se passaram quase três meses desse ano que começou ontem. A vida realmente é agora.
P.S.: Este texto foi escrito na segunda semana de março.
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