Recentemente fui ao cinema (aquela coisa de me levar para sair, como sempre faço) e assisti ao novo filme romântico The Materialists, uma narrativa bem moderna sobre o amor e coisa e tal. Confesso que, em alguns momentos, me senti um pouco angustiada com os diálogos nus e crus sobre o amor, especialmente para a nossa geração: a fama que o casamento adquiriu de ser uma instituição falha e a busca incessante — diria até a idolatria — pelo amor romântico. Mas este texto não é sobre o filme, embora eu indicasse que você o assistisse, já que os diálogos são interessantes e sagazes de um jeito bom.
Assistir a esse filme me atravessou. Desde que comecei a namorar, nunca escrevi um texto compartilhando um pouco da minha experiência, porque, na minha opinião, sinto uma certa vergonha alheia quando alguém começa a palestrar sobre uma coisa tão recente na vida dela, seja um novo amor, a maternidade ou qualquer outra novidade. Não queria soar assim, como se eu soubesse ou entendesse de tudo — porque não sei e não entendo. Estou vivendo minha experiência de forma bem honesta e de coração aberto. Foi assim desde o início.
Quando conheci meu noivo, há dois anos, decidi me abrir para essa possibilidade: me colocar no mundo do namoro de certa maneira, ter alguma experiência, sair para tomar um café, ter boas conversas com pessoas novas, rapazes cristãos (no meu caso) e, quem sabe, encontrar alguém interessante que também estivesse procurando um relacionamento sério, um compromisso real com o intuito de casar. Eu já tinha 24 para 25 anos, e era a minha primeira experiência (tirando toda aquela coisa de crush, paixonites não correspondidas). Na maior parte do tempo, eu não sabia muito bem o que estava fazendo ou como deveria ser. Só segui o fluxo, sendo honesta sobre meus sentimentos e sobre o que estava procurando. E fui.
Nossas gerações sempre beberam muito da fonte hollywoodiana, de filmes e livros românticos. Herdamos a mensagem de que o amor tem que ser maluco, impulsivo, cheio de fogos de artifício, borboletas no estômago e todo aquele drama que entretém. Mas, na vida real, isso não acontece sempre — ou, pelo menos, não foi feito para durar. Porque isso tudo que citei não é amor, é paixão, e ela foi feita para acabar. Ninguém dá conta de viver nessa adrenalina o tempo todo. Não sou contra a paixão; só acho que ela é muito superestimada. E também é muito diferente do amor. Talvez a paixão seja o início, e então evolua para o amor. Mas o amor é paciente, é bondoso, tudo espera e tudo suporta. Não é uma sensação: é uma escolha, uma construção.
Voltando à minha história: eu não senti todas essas coisas quando fui conhecendo meu noivo. Na verdade, tudo era bem calmo, tranquilo, sereno. Tivemos conversas sérias e profundas desde o início. Falamos sobre tudo e sobre nada, e o sentimento foi crescendo. Muitas vezes eu me perguntava se aquilo estava certo, se eu gostava mesmo dele, se tinha que ser daquela forma. Mas, na minha experiência, foi a calmaria que me deu a certeza. Foi a simplicidade. Foi não ter que fazer jogos de interesse, ou esperar que a outra pessoa adivinhasse o que eu queria. Foi não me colocar em situações onde eu acabaria me magoando ou magoando o outro por falta de maturidade emocional. Foi simples — às vezes até entediante e previsível — porque o amor é isso: certeza, segurança, abrigo. E foi isso que construímos na nossa história.
Chegava a ser engraçado: namoramos mais de um ano e meio à distância. As oportunidades de estarmos no mesmo lugar foram muitas, mas sempre breves. E, quando estava na companhia dele, eu sentia um sono absurdo. Ficava até estressada, porque, como falei, os momentos eram raros, mas parecia que meu corpo inteiro relaxava, como se eu não precisasse mais tomar conta de mim sozinha. Como se eu tivesse alguém que gostava de cuidar de mim, e eu simplesmente pudesse descansar. Então meu corpo respondia com uma sonolência sem fim. Até que descobri que existe um dado científico comprovando a conexão entre a sonolência e o fato de dormir mais quando estamos na companhia da pessoa amada.
Saber disso me encheu de ternura e de segurança. Não havia nada de errado conosco, nem com a nossa história. Os fogos de artifício e as borboletas realmente existem, mas acontecem também em um amor tranquilo. Só que não são essas coisas que deveriam ser o foco da nossa atenção. O que realmente importa é a segurança, a simplicidade. E, quando digo simplicidade, não quero dizer que um amor seguro e maduro não tem conflitos ou dificuldades. Claro que tem. Tudo na vida tem suas complicações. Mas é simples no sentido de que até as complicações podem ser descomplicadas. O ambiente seguro proporciona isso. Até as conversas difíceis se tornam viáveis, possíveis. Porque esse amor é como um lar, e, no nosso lar, podemos ser nós mesmos, sem filtros. Podemos vestir pijama, uma meia de cada cor, não estar com o cabelo escovado ou a barba feita — e, ainda assim, ver que o amor está lá. O desejo de fazer dar certo está lá. E é essa vontade que vai sustentar as coisas quando os dias não tão bons aparecerem.
No filme que assisti recentemente, há um diálogo muito terno em que um dos personagens diz algo como: o amor é simples. Você não sabe dizer o porquê ama a pessoa que ama, o que ela fez ou faz que te faz amá-la. Você só ama. E não poderia concordar mais. É olhar no rosto da pessoa amada, vê-la falando, fazendo, agindo de um certo jeito, e pensar: é por isso que amo você. Mas, quando alguém te pergunta o porquê, ou quando você tenta enumerar as razões, é difícil explicar. Porque são essas coisas específicas, desses momentos específicos — e tantas outras que a gente nem se dá conta. Elas simplesmente existem. E continuam crescendo.
E, para toda a angústia que senti nesse mesmo filme, também houve um momento em que aparece uma fala bem amarga e real sobre o amor: sobre como ele começa e vai se deteriorando. Eu repreendo isso na minha vida. Repreendo essa visão de que o amor é descartável, de que não vale a pena lutar por ele, e toda essa praga da era moderna sobre o amor. Entendo que o maior amor de todos é o amor de Deus, porque esse é o único que pode preencher os espaços dentro de nós que nem sabíamos que estavam vazios. Espaços aos quais nem temos acesso, mas que estão ali, latejando, até que encontremos o maior amor do mundo. E esse Deus é tão bom, um Pai tão amoroso, que nos concede dádivas e bênçãos. E o casamento é uma delas!
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