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Mostrando postagens de 2024

Texto do avião

  Se me pedissem para descrever o sentimento de gratidão, eu diria que é um sorriso de orelha à orelha bem no meio do peito. Estou em um dos voos em direção ao Brasil para rever minha família e amigos, depois de mais de dois anos. E que presente está sendo toda essa jornada, ter o meu fofinho comigo, uma mala com os gostinhos dos lugares em que passei, na tentativa de compartilhar um pouco dessa parte da minha vida, com quem é tão importante.  Em momentos como esse, me fazem nem lembrar que um dia já fui, ou estive, triste. E que a passagem do tempo é um presente desse lado da eternidade, numa de suas curvas, se a gente pensar direitinho. Vamos lá encontrar com todos que deram um sentido ainda maior, para o sentimento saudade. E se ela existe, é porque também há amor. Obrigada meu Senhor, por tudo que me tem permitido viver. O Senhor é sempre bom para mim. 

Uma lição sobre dinheiro

Sei que falar sobre dinheiro, e um assunto delicado, pra mim, muito. Mas recentemente vivi um acontecimento que me fez querer compartilhar uma lição. Esse ano depois que renovei o visto e comecei a trabalhar pra igreja recebendo um salário, muita coisa mudou, inclusive o fato de que eu teria que pagar aluguel, no início fiquei bem receosa e triste, porque pensava: poxa, dessa vez eu vou receber um salário, quero fazer x e y e guardar dinheiro pra z, mas tudo não aconteceu do jeito que queria, o que não e novidade na vida de ninguém. Estava segurando forte o dinheiro com minhas próprias mãos. Resumindo a história: encontrei uma casa pra pagar um aluguel mais barato e que ficasse mais perto do meu trabalho, tudo muito lindo nos meus planos, mas no dia da mudança, tive uma surpresa desagradável: a casa estava numa situação suja e feia, fedendo a cigarro, sem trancas nas portas, sem segurança e sem vida, e eu? Chorei, bem ali sentada na cama. Ainda bem que quando coisas ruins acontecem, De...

A noite escura da alma

 Relatei em posts passados sobre um momento delicado em minha vida, quando vivi uma crise de fé aguda. Se fosse médica, era assim que diagnosticaria o que vivi nesse período. Foi um tempo difícil e ainda me pergunto se devo colocar isso no passado como algo que venci, ou que me marcou e sempre vai estar ali pra me relembrar. Como Jacó que depois de lutar com o anjo saiu daquela noite manco, é assim que me percebo, como se também mancasse após tudo isso.    Durante esse período li muitos livros, me debrucei na apologética (estudo sobre os argumentos para a existência de Deus) e encontrei tantos autores que também passaram por uma situação semelhante, a noite escura da alma, como João da Cruz escreveu, e finalmente entendi o que uma vez li, que a nossa maior luta não será contra o diabo e sim contra Deus. Em tentar entendê-lo, porque faz o que faz, diz o que diz e é o que é e não o que gostaríamos que ele fosse.  O sofrimento, as dores da vida, o mal do mundo, tanta co...

É dentro dos relacionamentos que a vida acontece

As duas maiores lições que tenho aprendido ao longo desses dois anos aqui em Belfast, na Irlanda do Norte, tem a ver com pessoas; hospitalidade e relacionamentos. Tudo bem que as duas coisas estão interligadas, mas nem sempre é óbvio. Só pode existir relacionamento se houver mais de uma pessoa envolvida, e só pode haver hospitalidade se existirem um anfitrião e um hóspede.  Ao longo desses dois anos e acredito que bem antes disso, tenho me percebido tornar-me uma pessoa menos extrovertida, mais reservada ainda e mais seletiva, introvertida, mas ainda assim amo estar com as pessoas, mesmo que depois tenha que descansar em silêncio e sozinha, no fim também me recarrego estando ao lado das pessoas. E refletindo hoje sobre isso, entendi que a vida acontece dentro dos relacionamentos, sejam eles quais forem. Pois é no relacionamento com o outro que somos moldados, exortados, animados, amados e confrontados, e é bom que seja assim. Deus nos livre de uma vida sozinha, centrada no eu. Que ...

Sobre ser mediano, ócio e a espera no escuro

Estive pensando recentemente o quanto não somos preparados para sermos medianos, normais, diria até que ordinários, no sentido de ser comum. Hoje em dia queremos ser vistos, ouvidos, ter uma rede social que bombe de engajamento, ou simplesmente nos disseram que a gente tinha que ser o melhor, ir além da medida, trabalhar tanto, e não é a toa que estamos lutando com tantas doenças no âmbito psicológico/ emocional hoje em dia. E me vi pensando isso sobre mim. Porque preciso sempre pensar que algo muito grande vai acontecer na minha vida? Que Deus tem uma GRANDE OBRA (coloquei em caixa alta para dar enfâse) para realizar? E essa obra está sempre pra se realizar, quando na verdade toda essa coisa grande é feita de tantas outras tão pequenas, como li uma vez no livro da Anne de Green Gables. Na verdade essa grande obra está acontecendo todo dia, no percurso, na vida que é vivida e feita de instantes.  E não me entenda mal, não estou querendo dizer que não devemos fazer ou querer o melho...

Crise de fé um relato- parte 2

 Mais de um ano depois de ler esse texto (último post) que escrevi relatando meu processo de crise de fé, me veio um sentimento de que viver é estar em crise. Estar em movimento é estar em crise como diz minha psicóloga, e não ousaria dizer que superei tudo isso 100%, já que estar vivo é estar pensando e repensando todas as coisas, revisitar nossas certezas quando os dias são maus, quando meus sentimentos não são condizentes com o que eu digo crer, e com o entendimento que a fé vem pelo ouvir (não sentir) e ouvir a palavra de Deus.  Nesse processo todo tive muita ajuda,  ter conversas honestas me salvou muitas vezes, procurar ajuda pastoral, psicológica, o conforto dos amigos, foram medicina para minha alma. Ver meus irmãos em Cristo me suportarem no sentindo literal da palavra, foi uma graça tremenda. Viver dias comuns e leves e ir voltando a me sentir eu mesma ao longo de tudo isso foi um processo, e nem diria que foi linear, na verdade foi/é bem turbulento. E olhando p...

Crise de fé- um relato parte 1

Por que eu existo? Qual o significado da vida? Da morte? Pra onde estou caminhando? Por que estou aqui na Irlanda do Norte? Quem sou eu? O que quero? Quais os meus sonhos? No que sou boa? O que vou fazer dos diplomas que recebi? O que estou fazendo da minha vida? Por que  creio no que creio? Como crer no que creio afeta minha vida? Como viver meus dias? Será que realmente creio no que eu digo crer? Quem é Deus? Por que Jesus fez o que fez e como isso implica na minha vida? Será que realmente tenho mesmo um chamado pra missões? Todas essas questões tem bombardeado minha mente desde a páscoa. Questionar tudo o que estava tão apático, certo e sem nenhum abalo tem mexido comigo de uma forma que nem sei como colocar em palavras, e olha que as amo, admiro e me sinto muito amiga delas. Mas estou vivendo um daqueles momentos em que não consigo exatamente expressar o que sinto e como sinto. Tem sido difícil. Já chorei. Já fugi. Agora estou tentando encarar todas essas dúvidas entendendo que...

Curso Celta e uma lição de humildade

 Durante o mês de Abril  estive fazendo um curso que me dá uma certificação reconhecida aqui na Europa, para ser professora de Inglês como segunda língua. Não foi uma coisa fácil já vou logo  dizendo. Talvez difícil seja ainda uma palavra fraca pra descrever toda essa experiência. Mas também foi muito bom, estar nesse lugar novo, de aprender, de ter essa experiência ainda em outro país, foi um privilégio. Conheci pessoas muito legais, e foi bom ver que eu não era a única a sofrer com todos os trabalhos, planejamentos de aulas e observações. Foram quatro semanas bem intensas sendo que já no primeiro dia tivemos que dar aula. A melhor parte eu diria que foram os alunos, tão engajados e interessados em aprender, já que a maioria deles são refugiados e precisam aprender Inglês o quanto antes. Meus colegas de classe também foram como a cereja do bolo, não houve um ambiente de competição, de inimizade, muito pelo controle, foi um ajudando o outro, consolando o choro porque a pr...

Minha rotina aqui em Belfast e mais

 Sempre me sinto um pouco infiel de registrar tão pouco sobre a minha vida aqui, em parte porque sinto que talvez não seja tão importante documentar e em parte porque a rotina acaba não permitindo. Então resolvi escrever esse texto para documentar como são meus dias aqui e como tenho passado. Ainda não acredito que já fazem quase dois anos que estou aqui na Irlanda do Norte, parece uma vida. E acredito já ter documentado em outro texto como esse meu segundo ano aqui tem sido diferente, primeiro porque estou morando sozinha e segundo porque minha vida não se resume mais só a trabalhar para igreja em período integral. Continuo trabalhando e servindo o corpo de Cristo mas hoje em dia é em meio período, isso significa que lidero o grupo de jovens e adultos da minha igreja local Irlandesa (City Church),  dou aulas para a comunidade de inglês e ajudo em tudo o que posso com o ministério das crianças e adolescentes. Também temos a igreja brasileira em que sirvo com as crianças e trad...

Se sentir perdido

  Esses últimos dois anos da minha vida tem sido uma jornada e tanto. E durante esse tempo me deparei com um sentimento muito agonizante de me sentir perdida, não literalmente, mas um senso de direção totalmente confuso e muitas vezes, frustrante e triste. Durante esses momentos ouvi de muitas pessoas e até em músicas, que se sentir perdido faz parte da caminhada, e eu espero que isso seja verdade, pois quando você está lá vivendo tudo isso parece que nunca vai passar. E é muito estranho porque no fundo você sabe o que deveria fazer ou pra onde deveria ir mas na realidade você não faz ideia, e tudo ao mesmo tempo. Não é como quando você está literalmente confuso porque seguiu no maps e errou o caminho, ou por tudo ser novo e você precisar de uma orientação, uma informação, é um sentimento que vem de dentro mesmo, de muita confusão e é angustiante pois tudo o que queríamos é que alguém nos tirasse de lá, nos dissesse o que fazer e para onde ir, e adivinha? Isso não acontece. No fina...

Não tem como passar pela vida ileso

  Não sei exatamente qual o momento em que voltamos a nos sentir nós mesmos depois de dias difíceis, ou talvez até de anos difíceis, só sei que um dia, acontece. Estamos vivendo nossa vida normal, mais um dia como todos os outros, talvez até estendendo roupa no varal ou tomando um copo d’água e bum! Percebemos que aquilo que parecia tão maior do que nós e tão complicado, passou. Superamos. A vida continuou acontecer apesar de. E pensar nisso me faz perceber que não tem como passarmos pela vida ilesos, é parte da experiência, é um ciclo até meio que repetitivo: passamos por momentos difíceis, superamos, vivemos bons dias e logo vem outra coisa para que a gente supere, vença. E não, o tom aqui não é para te desencorajar e sim pra te lembrar que a vida de todo mundo é assim, até de quem a gente pensa que não sofre ou que tem tudo no perfeito lugar (aquela coisa da grama do vizinho ser mais verde) porque a experiência de estar vivo tem dessas coisas. Talvez nunca entenderemos as cois...

Janeiro e uma lição de hospitalidade

 Não foi em Janeiro que comecei a aprender mais sobre hospitalidade, na verdade começou desde que vim  morar sozinha e receber pessoas na minha casa. Mas receber mesmo, com carinho, amor, com preparo, espirrando cheirinho  de lavanda nos cômodos e orando para que as pessoas que eu acolhesse se sentissem assim: acolhidas, especiais, à vontade, em casa.  Voltamos com as atividades na igreja e tem sido bem calma nossa rotina de volta, acredito que pelo clima (muito frio, até nevou) e a escuridão que tem acontecido cedo, entre 4 - 4:30 da tarde já começa a ficar escuro. E me peguei pensando e me sentindo culpada por estar fazendo pouco, na minha percepção, um sentimento de culpa com inutilidade, porque sim, sou bem dramática, e confesso que estou sempre tendo que lutar com esse sentimento de me lembrar que não sou o que faço, e que mesmo nos dias em que me sinto menos produtiva ou até "inútil" isso não é verdade, porque nosso valor não reside no que fazemos e sim em quem...